Quantos objetos deve entregar um carteiro para alcançar uma adequada produtividade?
Esta pergunta parece simples, mas não é, como demonstraremos a seguir.
Imaginemos, por exemplo, que um carteiro faça entregas numa área densamente povoada, como a Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, e que outro faça entregas numa pequena cidade do interior. Teremos certamente uma gigantesca diferença entre o número de objetos distribuídos por cada um desses carteiros.
Imaginemos agora que o distrito de um deles tenha um volume significativo de encomendas e que o outro não. Isso também interferirá no volume de objetos distribuídos, pois uma encomenda exige sabidamente muito mais tempo que o necessário para entregar uma carta simples, pois além de se tratar de um objeto "embaraçoso", no linguajar postal, ainda demanda a coleta de recibo, coisa que não acontece com cartas simples.
Assim, ao tratar do tema produtividade, é necessário um cuidado especial, pois se pode facilmente cair na armadilha de comparar coisas e situações incomparáveis. No mínimo, a comparação deveria trazer bem claras as diferenças de contexto existentes entre cada uma das situações.
Nos Correios, tenho visto por inúmeras vezes cálculos que juntam simplesmente o volume total de objetos distribuídos num período e dividem isso pelo total de empregados ou pelo total de carteiros, extraindo daí um "índice de produtividade". Sempre vejo essas informações com ressalva, pois há fatores que vão se alterando ao longo do tempo e que não são considerados numa simples conta como essa.
Um desses fatores é o próprio perfil da carga. Se o volume de encomendas - que são mais "embaraçosas", demandando mais tempo para entrega - vai aumentando proporcionalmente mais que o de cartas, por exemplo, seria natural esperar que o volume total de objetos entregues por um carteiro vá diminuindo com o tempo. E nem por isso ele será "menos produtivo'. Na verdade, como as encomendas podem trazer maior receita para a empresa, especialmente se forem expressas, pode ser que o carteiro esteja sendo mais produtivo em termos econômicos para a Empresa, ainda que entregue menos objetos em seu percurso.
Outra situação que demanda muito cuidado surge quando se compara a quantidade de objetos distribuídos por carteiro no Brasil com a quantidade distribuída em outros países. Há países em que os objetos distribuídos têm perfil bem diferente do brasileiro, por exemplo com um grande predomínio de cartas. Isso, por si só, já torna a comparação inadequada. Há também as situações de países densamente povoados na maioria de suas cidades, com uma grande volume de objetos entregues por endereço diariamente, o que é bem diferente da imensa dispersão geográfica brasileira, com muitas áreas de ocupação dispersa e com baixo volume de objetos entregues por endereço, demandando uma maior percorrida dos carteiros em seus respectivos distritos.
Enfim, para uma empresa de correios é muito importante que se acompanhe a produtividade dos carteiros, mas é necessário que isso seja feito com profissionalismo, sem simplificações ou reduções que distorçam a realidade.
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