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“Quem planta tâmaras, não colhe tâmaras!” *
Quando nos propusemos a concorrer nas primeiras eleições para o Conselho de Administração dos Correios, queríamos, antes de tudo, valorizar a oportunidade que estava sendo oferecida aos trabalhadores de terem um membro eleito pelos trabalhadores no colegiado superior da Empresa.
Com o apoio dos colegas que conheciam nosso trabalho ou que acreditaram em nossas propostas, logramos êxito na primeira eleição, em 2013, fato que se repetiu em 2016, quando nossa chapa foi reeleita.
Nestes cinco anos de atuação no Conselho de Administração da Empresa, procuramos cumprir à risca o que prometemos aos colegas, com uma atuação destacada, que qualificasse e enriquecesse os debates do colegiado. Sabíamos que, em muitas ocasiões, estaríamos plantando tâmaras, as quais só seriam colhidas mais à frente, quando já não estivéssemos mais no colegiado. Mas isso nunca nos impediu de continuar o plantio, dia a dia, reunião a reunião, como procuraremos demonstrar hoje.
A tamareira da profissionalização da gestão
Nenhum tema mereceu tantas manifestações nossas como a importância da profissionalização da gestão da Empresa. Sempre vimos essa medida como a mais importante para o sucesso e a sustentabilidade dos Correios. E isso veio materializado inclusive em votos contrários à eleição de dirigentes cujas qualificações nos pareciam insuficientes para a importante missão de um Vice-Presidente dos Correios. Durante nosso período de gestão, tivemos oportunidade de acompanhar a Lei nº 13.303/2016 desde sua origem e até de oferecer uma pequena contribuição de aperfeiçoamento, que foi incorporada pela equipe do relator à Lei. Lamentamos que, no processo legislativo, o Projeto tenha sofrido alguns ajustes para “facilitar” o acesso aos cargos de direção de estatais, mas, mesmo assim, consideramos que a Lei nº 13.303/2016 foi um dos avanços institucionais mais importantes ocorridos no Brasil nos últimos anos.
As tâmaras a colher no futuro dessa tamareira são o estabelecimento de requisitos mais fortes para os dirigentes de grandes estatais como os Correios e o aprimoramento do processo de seleção desses executivos, seguindo a trilha já iniciada pela Embrapa e pela Caixa.
A tamareira do desenvolvimento comercial da Empresa
Outro tema que motivou inúmeras manifestações nossas durante nosso período de gestão foi a importância de a Empresa desenvolver seus negócios, aproveitando as oportunidades abertas pela Lei nº 12.490/11. Infelizmente, as direções que se sucederam na Empresa após a edição da Lei nº 12.490/11 não conseguiram aproveitar as portas que foram abertas para a Empresa com essa legislação.
Parcerias para desenvolver os negócios de operador logístico, de instituição financeira, de seguros, de capitalização e muitos outros continuam aguardando lideranças estratégicas capazes de empreendê-las. Alguns destes negócios contam, inclusive, com projetos bem evoluídos, que poderiam ser colocados em marcha com bastante facilidade.
As tâmaras a colher no futuro dessa tamareira são a exploração desses novos negócios, constituídos de acordo com as leis, valorizando as marcas e a infraestrutura da Empresa.
A tamareira da gestão de pessoas
De tanto questionar nas reuniões do colegiado o fato de a Empresa não contar com um adequado plano de funções nem com bons critérios para designação de pessoas, fomos convidados, pelo Presidente do colegiado, a apresentar propostas para a solução desses dois temas. Duas reuniões ordinárias depois, após pesquisa e reuniões com benchmarks, apresentamos anteprojetos para enfrentar as duas questões. Esse “plantio” ocorreu há 4 anos e deverá produzir frutos, mesmo que tardios, a qualquer momento. Se os frutos forem realmente bons, resolverão um dos principais flancos existentes hoje na Empresa, pelo qual se tem, de forma sistemática, aparelhado politicamente a organização.
A tamareira da situação econômico-financeira da Empresa
A situação econômico-financeira da Empresa se agravou nos últimos anos, a ponto de o tema passar a ocupar praticamente toda a agenda das várias lideranças da Empresa, com os reflexos negativos que isso produz.
No conselho, procuramos sempre lançar luz sobre as causas que contribuíram para a mudança da situação econômico-financeira e contábil da Empresa, apontando como grandes vilãs desse quadro o recolhimento excessivo de dividendos, o represamento de tarifas e uma implantação abruta de nova prática contábil (pré-pagamento do pós-emprego).
Na atualidade, o que era inicialmente apenas o discurso de um conselheiro que insistia em tratar de causas e não apenas dos efeitos, passou a menções formais nos relatórios empresariais e também em relatórios de órgãos de controle, de maneira que quem se debruçar hoje sobre a história da Empresa saberá que a ocorrência desses três fatores transformou a realidade econômico-financeira e contábil dos Correios nesta década. Entendendo as causas, se poderá buscar melhores soluções para o restabelecimento do equilíbrio empresarial. Serão essas as tâmaras a serem produzidas por essa tamareira.
A tamareira da qualidade
Há alguns meses vivíamos na Empresa um quadro de qualidade operacional que parecia irreversível. Nossos centros de tratamento de encomendas estavam completamente abarrotados de carga, os objetos eram sistematicamente entregues com atraso produzindo indicadores de qualidade muito ruins e em declínio e o volume de reclamações crescia continuamente, assim como o volume de indenizações.
Depois de algumas manifestações a respeito do tema sem efeito na situação, propusemos ao Presidente do Conselho de Administração que o colegiado apreciasse a substituição dos Vice-Presidentes das três áreas que, em nossa avaliação, eram responsáveis pela situação. Foi a maneira que encontramos para demonstrar a gravidade do quadro e a necessidade de essas áreas alinharem suas decisões e ações.
A proposta de substituição dos executivos não foi levada a apreciação do colegiado, mas, a partir de então, o tema Qualidade Operacional entrou na pauta de temas debatidos no CA e as áreas da Empresa encontraram a convergência necessária para superar o quadro. Com gestão focada, recursos adequados e processos de apoio priorizados, chegamos, em poucos meses, a uma situação completamente diferente, onde a meta de qualidade para encomendas nacionais é um piso do qual nos distanciamos cada vez mais, as encomendas chegam com prazos inferiores aos estabelecidos, as reclamações sofreram a maior queda histórica de seu volume, embora se situem ainda num patamar que preocupa e que merece atenção.
A tamareira da qualidade precisa de muita atenção, pois tem ainda importantes frutos a oferecer, abrangendo especialmente as correspondências de todos os tipos e as encomendas internacionais.
A tamareira da comunicação
Desde o primeiro dia de mandato, preocupamo-nos não só em desempenhar com esmero o papel de conselheiro, mas também em manter os colegas bem informados sobre as decisões do colegiado e sobre nossas opiniões a respeito dos temas mais relevantes. Assim, o blog que mantivemos nestes cinco anos contém um acervo inestimável de matérias sobre os Correios, produzidas pela ótica de um trabalhador que se aprofundou nos temas para abordá-los e que explicou de maneira circunstanciada cada posicionamento defendido. Os e-mails enviados logo após cada uma das centenas de reuniões ocorridas complementam o acervo que permanecerá à disposição de todos.
A tamareira da comunicação é a mais reconhecida pelos trabalhadores, que passaram a saber, quase em tempo real, das decisões tomadas no colegiado superior da Empresa, uma situação ímpar na administração pública brasileira. Por isso, essa é uma tamareira que não pode prescindir nunca de atenção especial do próximo conselheiro.
A tamareira da democracia
Após cinco anos de presença no Conselho de Administração e apesar da concreta possibilidade de alcançar mais uma reeleição, decidimos que era chegado o momento de outro colega ocupar a única cadeira reservada para um membro eleito pelos trabalhadores. A tamareira da democracia precisava produzir novos frutos, para demonstrar que era acertada a fórmula usada de prever a presença de um membro eleito pelos trabalhadores no Conselho de Administração.
Encerraremos, assim, em breve, nossas atividades no Conselho de Administração, com a expectativa de que tenhamos escrito uma boa história, deixado boas tamareiras em produção e um modelo de atuação inspirador, pois era exatamente isso o que almejávamos quando nos lançamos ao desafio de integrar o Conselho de Administração dos Correios.
Marcos César Alves Silva
Conselheiro
* Ditado popular árabe. Conta-se que certa vez um senhor de idade avançada plantava tâmaras no deserto quando um jovem o abordou perguntando: “Mas por que o senhor perde tempo plantando o que não vai colher?” O senhor virou a cabeça e calmamente respondeu: “Se todos pensassem como você, ninguém colheria tâmaras”. Como as tamareiras levavam de 80 a 100 anos para darem os primeiros frutos, o ditado procurava demonstrar que não importa se você vai colher, o que importa é o que você vai deixar, para todos e para o futuro.
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