As notícias nos Correios angustiam.
Depois de (mais de 30) anos a serviço dos Correios sinto-me hoje muito apreensivo com a situação e com as medidas que vem sendo tomadas pela Diretoria da Empresa.
Cada ano que passa meus ganhos encolhem, seja pelos aumentos diferenciados e abaixo da inflação, seja pelos aumentos de despesas com Postalis e Postal Saúde (previstas), sejam pelos cortes de funções e do anunciado corte do diferencial de mercado.
O mercado livre e a mídia falam mal dos Correios, falam o que bem entendem e não há qualquer resposta à altura da organização.
O que pode ser feito? Parece que a atual direção não está nem um pouco preocupada com a subsistência e recuperação dos Correios. Mais parece aqueles que querem comprar seu carro e começam a por defeito para baixar o preço.
Será que nós, funcionários, desaprendemos a fazer Correios, um dos melhores do mundo? Ou será que os dirigentes não estão sabendo pilotar esta nau ?
Não seria a hora de denunciar ao Ministério Público, à Polícia Federal, à UPU?
Ontem, domingo, trabalhei com muitos outros funcionários administrativos e funcionários de atendimento em “ações contingenciais”. Pelo menos temos a sensação de estarmos fazendo a nossa parte.
Além de pedir seu apoio, só nos resta pedir a Deus que nos livre de tanto mal.
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Esta foi uma das inúmeras mensagens que recebi nos últimos dias de colegas angustiados com o atual quadro geral da Empresa. Nesta postagem, procurarei responder ao colega que me enviou esta mensagem, com a certeza de que a resposta servirá a muitos outros que se encontram igualmente angustiados.
Primeiramente, gostaria de cumprimentar o colega pela disposição demonstrada ao integrar um dos grupos montados para desenvolver uma "ação contingencial", ou seja, para realizar o tratamento de objetos que se acumularam num dos centros de tratamento da Empresa. Esse é o espírito! Não podemos desistir, ainda que nos revolte a observação de que as situações que motivaram a necessidade do trabalho contingencial poderiam ter sido evitadas com boa administração.
Na semana passada, encaminhei expediente ao Presidente do Conselho de Administração questionando o contingenciamento de algumas despesas que, em minha opinião, jamais poderiam ser contingenciadas, sob pena de acabarem produzindo mais despesas ainda e criarem gargalos operacionais na organização (etapa do tratamento de carga). As despesas que tratei nesse expediente foram as relacionadas à contratação de transporte, à aquisição de unitizadores e à contratação de pessoal para o tratamento. Se esses recursos faltam nos Correios por insuficiência de orçamento, os desdobramentos vão se sucedendo até chegar à necessidade de trabalho contingencial e de pagamento de indenizações por atraso. No final, a despesa é maior, sem contar os demais efeitos nocivos.
Com relação à situação individual em termos de remuneração e carreira, trata-se também de uma situação que tem piorado sistematicamente na Empresa nos últimos anos. Carreiras, treinamento técnico, plano de funções, etc são coisas que deveriam ter evoluído nos Correios, haja vista a existência de bons instrumentos de gestão de pessoas no passado, que situavam a Empresa em destaque no conjunto das estatais brasileiras. O que se viu nos últimos anos, porém, foi uma involução deliberada desses mecanismos, para favorecer indicações sem base técnica ou meritocrática. E os valores das funções passaram a ser tratados como uma verba que poderia ficar sem reajuste, para reduzir os efeitos dos acordos coletivos nas finanças da Empresa.
Com relação às reclamações da mídia e de nossos maiores clientes, é uma demonstração de que, no mínimo, nossa direção não está sendo bem sucedida na implementação e comunicação das medidas que delibera. Terceirizar a solução para a justiça seria mais uma demonstração de incompetência.
A respeito da preocupação com a subsistência e recuperação da Empresa, entendo que realmente algumas decisões tomadas têm produzido sérios arranhões de imagem para os Correios e destruído valor da organização, às vezes nem tanto pela motivação ou pela medida em si, mas sim pelo dimensionamento exagerado da medida, pelo tempo curto em que é implementada e pela desarticulada comunicação.
Não tenho nenhuma dúvida sobre a questão que você coloca a respeito de os trabalhadores terem desaprendido ou a direção não estar sabendo dirigir a nau. Já mencionei isso diversas vezes aqui no blog. Acredito firmemente que, com boa direção, a nau volte rapidamente a seu curso, com os trabalhadores podendo fazer bem seu trabalho.
Sobre denunciar a situação, creio que a profusão de matérias na imprensa já traz elementos mais que suficientes para se perceber o quadro instalado na Empresa e para cada instituição poder fazer seu papel. Mas as entidades representativas podem cobrar a atuação de cada uma dessas instituições, de acordo com as respectivas competências.
Finalizando, reforço minha convicção na qualidade do quadro profissional dos Correios e reafirmo que a solução para a Empresa retomar sua história de sucesso e de ótimos serviços prestados à sociedade é muito simples, até trivial:
"profissionalizar a gestão, do topo à base!"
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