sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A crise real dos Correios

Nos últimos dias, tivemos oportunidade de ler manchetes de jornais mencionando "Crise nos Correios". Essas matérias tratavam do déficit financeiro da Empresa nos últimos anos e do PDI que a Empresa está formulando. Faremos alguns breves comentários a respeito disto nesta postagem.

Primeiramente, consideramos importante destacar que a palavra "crise" talvez não expresse de forma adequada a situação conformada nos Correios, pois o quadro existente não é novo e nem era desconhecido. Ele começou há vários anos, com o loteamento da direção da Empresa entre partidos políticos, os quais colocaram na organização dirigentes sem as qualificações mínimas para o exercício dos respectivos cargos. Com o decorrer do tempo, a incapacidade desses dirigentes somada à disseminação da politização foi corroendo os mecanismos meritocráticos que a organização possuía. Isso precisa ser modificado logo, com o efetivo cumprimento da Lei nº 13.303/16 e com a escolha de dirigentes à altura dos desafios de uma grande empresa como os Correios, pois, só assim, se conseguirá reconstruir e aprimorar os instrumentos meritocráticos de seleção e desenvolvimento de lideranças, e, consequentemente, melhorar a gestão da organização em todos os níveis.

Com relação ao déficit financeiro registrado pela Empresa, trata-se de uma questão que realmente precisa ser enfrentada pela direção da Empresa, de forma responsável e consciente. É necessário, porém, compreender as diversas razões que levaram à configuração do atual quadro, que também não aconteceu de ontem para hoje. É necessário perceber que o Governo Federal descapitalizou a Empresa nos últimos anos, com o excessivo recolhimento de dividendos, além de ter congelado indevidamente as tarifas postais por dois anos. É importante levar em conta que a Empresa passou a adotar novas normas contábeis que obrigam o registro de despesas futuras até então não computadas, especialmente o pós-emprego, com o qual a despesa anual contabilizada foi aumentada em quase R$ 1 bilhão. Enfim, trata-se de uma questão que demanda um bom entendimento de suas causas para ser devidamente enfrentada.

E com relação ao PDI, é bom observar que trata-se de um mecanismo de gestão de pessoas utilizado regularmente em outras grandes estatais, que gera benefícios tanto para essas organizações, que economizam com sua folha de pagamentos, quanto para os trabalhadores, que antecipam sua retirada, estimulados pelo incentivo oferecido. Não se trata, portanto, de uma panacéia e nem de uma solução mágica para um quadro de desequilíbrio econômico. Trata-se de algo absolutamente normal, que já deveria estar ocorrendo sistematicamente há tempos nos Correios, como acontece em outras estatais.

Concluindo, diríamos que se há crise nos Correios, essa crise se refere à gestão. E cabe ao acionista perceber isso e corrigir o problema. Simples assim!

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