terça-feira, 7 de agosto de 2018

Os Correios no novo governo - problema ou "joia da coroa"?

Com a aproximação das eleições presidenciais, temos observado o que falam os candidatos a respeito dos Correios e procurado contribuir de alguma forma para que entendam melhor o que é a Empresa, sua importância para o Brasil e quais são seus reais problemas.

Nesta postagem, tentaremos trazer mais uma contribuição, consolidando algumas informações e ideias sobre os Correios, na expectativa de que esse exercício seja útil ao próximo governo.



Missão Constitucional

A Constituição Federal prevê, em seu artigo 21, que compete à União "manter o serviço postal e o correio aéreo nacional". Assim, diferentemente de outras estatais, os Correios existem para cumprir uma missão pública expressa na própria constituição.

Interesse Público subjacente às atividades empresariais

Em sua Carta Anual, publicada no LINK, os Correios informam, entre outras coisas, que: "Os Correios oferecem infraestrutura relevante para viabilização de políticas públicas, integração nacional e inclusão social, com sua rede de agências e seus serviços financeiros, de logística e de comunicação, à disposição da população, das empresas e das instituições."
De fato, além de constituir uma infraestrutura que viabiliza uma séria de negócios, como, por exemplo, os empreendimentos de comércio eletrônico, os Correios são um mecanismo de integração nacional e de inclusão social bem evidente, que facilita e melhora a vida dos brasileiros em todos os cantos do país.

Organização de grande porte

Muitas pessoas só conhecem os Correios pelo carteiro que atende seu domicílio ou pelas agências postais, mas, por trás dessa face mais visível, está uma organização de grande porte. Com faturamento em torno de R$ 20 bilhões por ano, um quadro de pessoal próprio de cerca de 106.000 trabalhadores, milhares de unidades de atendimento, tratamento e distribuição espalhadas pelo país, os Correios são uma das maiores estatais brasileiras.

Gestão

Organizações do porte dos Correios não podem simplesmente ser entregues a partidos políticos e nem ter seus dirigentes indicados por políticos ou por grupos de interesse. Os dirigentes devem ser devidamente selecionados entre executivos com grande experiência e adequada qualificação para a missão que desenvolverão. E essa qualificação vai muito além da régua rasa estabelecida pela Lei nº 13.303/2016, pois o desafio de liderar bem uma organização desse porte é muito maior, por exemplo, do que o exercício de uma função de DAS-4 no Governo Federal. 

Finanças

Decisões tomadas pelo acionista em períodos anteriores impactaram fortemente a situação econômico-financeira dos Correios. Retirada excessiva de dividendos, represamento tarifário em período eleitoral e abrupta contabilização das despesas de pós-emprego explicam a inversão de resultados vivida pelos Correios a partir de 2012. O novo governo e a nova direção da Empresa precisam compreender muito bem os efeitos desses três fatores, que teriam dizimado outras organizações se lá ocorressem simultaneamente. Após isso, estarão em condições de avaliar medidas para corrigir a situação.

Operações

A qualidade operacional está no DNA da Empresa, que nasceu em 1969 sob forte comando e disciplina. Isto precisa ser bem compreendido pelo governo e, principalmente, pelos dirigentes que vierem comandar a Empresa. As decisões estratégicas da Empresa precisam estar orientadas a sempre resguardar a manutenção da qualidade, pois qualquer outro caminho acaba produzindo resultados piores para a organização e para a sociedade.

Negócios

Todas as organizações postais do mundo passam por uma mudança importante, com a progressiva redução da comunicação em papel, por um lado, e o crescimento do comércio eletrônico, por outro. No caso brasileiro, como os Correios já detinham posição de liderança no envio de pequenas encomendas, com seus serviços SEDEX e PAC, a Empresa chega bem posicionada a esse momento e com grande possibilidade de superar facilmente as reduções de volumes em alguns serviços.
Importante lembrar que uma nova direção terá também a seu favor as possibilidades já abertas com a Lei nº 12.490/11, que ampliou o objeto da Empresa e possibilitou sua atuação no exterior. 

Concluindo, diríamos que, diferentemente do que enxergam alguns, os Correios não constituem um problema a ser resolvido pelo novo governo, mas sim uma infraestrutura pública valiosa que pode apoiar muito mais a execução de políticas públicas e alavancar fortemente os negócios de empresas de todos os portes, com ênfase no comércio eletrônico.  Uma "joia da coroa", que merece atenção e boa administração.

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