domingo, 15 de maio de 2016

Sobre a matéria de O Globo, que trata de abertura de capital dos Correios


Os temas "abertura de capital" e "privatização" sempre estiveram entre as preocupações dos trabalhadores dos Correios, pelo impacto que uma mudança nesse sentido poderia trazer para o pessoal. A matéria de hoje (15/05) de O Globo reforça essas preocupações, ao informar que o governo Temer trata da abertura de capital dos Correios.

Nesta postagem, procuraremos debater um pouco, sem esgotar, as causas dos resultados da Empresa, os quais constituem um importante fator nessa questão, embora não seja o único.

Os Correios, diferentemente de outros negócios e do que imaginam alguns, não sofre uma grave crise de demanda, por obsolescência tecnológica ou outra razão. Os volumes de negócios da Empresa, tanto no que se refere às correspondências quanto às encomendas, podem ser considerados estabilizados, já que acompanham as variações da economia no setor de serviços. A crise de resultados produzida nos Correios e que ficou mais concreta e visível a partir de 2011 não decorreu portanto de questões relacionadas diretamente a mercado, mas sim a um descompasso que se produziu entre as receitas e despesas da organização.

O desequilíbrio entre receitas e despesas nos Correios possuem várias causas, todas porém relacionadas à falta de capacidade da gestão e de sensibilidade do acionista (Governo Federal) para o simples fato de que esse equilíbrio entre receitas e despesas é fundamental para a sobrevivência de uma estatal que deveria continuar andando com as próprias pernas, como fez bem nas décadas anteriores.

Do lado do acionista, congelamento desnecessário de tarifas em período pré-eleitoral, deprimindo fortemente as receitas de postagens de cartas, apesar de haver regra pré-estabelecida pelo próprio Governo Federal para a recomposição anual de tarifas postais. Além disso, retirada em dividendos de praticamente todo o lucro produzido pela Empresa nos últimos anos, quando esse patamar poderia estar no mínimo estabelecido em lei (25%), permitindo que a Empresa fizesse investimentos, aquisições etc, para melhor desenvolver seus negócios e operações.

Do lado da gestão, uma série de trapalhadas (para usar um adjetivo leve), notadamente com a gestão de pessoal, que, sob o pretexto de racionalização e de redução de custos, produziram o efeito contrário, como foi o caso da criação da Postal Saúde, a suspensão de concurso público e a flexibilização de normas para designação de funções, entre outras. O aparelhamento político induzido propositalmente na Empresa e a ingerência política nos Correios, na Postal Saúde e no Postalis, presentes nas últimas gestões, criaram rombos gigantescos que demandarão grande esforço para serem corrigidos.

A correção de rumos nos Correios, tanto no aspecto econômico quanto em qualidade de serviços, passará, necessariamente, por termos gestão técnica na Empresa, do topo à base. Assim, independentemente do rumo que se dê no futuro às estatais em geral ou aos Correios em particular, é fundamental que o novo governo perceba que não deve descuidar de escolher bem os dirigentes que aqui vai colocar e também de recomendar-lhes que reintroduzam na Empresa práticas que valorizem a técnica, a experiência e o desempenho, deixando de lado critérios políticos ou de outra ordem para escolher líderes.

Os Correios possuem bons fundamentos e bons quadros de pessoal. Bem dirigida, a Empresa pode fornecer excelentes serviços aos brasileiros, mesmo sob a forma de estatal. A questão central não é sua forma jurídica, mas sim a forma como é dirigida. Com aparelhamento e ingerência políticos, sob a forma de estatal ou de economia mista, não terá futuro e tenderá a aprofundar os rombos já produzidos. Bem administrada, porém, deixará de ser uma preocupação para o governo e voltará a ser motivo de orgulho para os brasileiros, posicionando-se entre as melhores organizações postais do mundo, como já aconteceu. E produzirá novamente bons dividendos para seu acionista.

O artigo de O Globo está no link.

16 comentários:

  1. Pelo que vejo essa abertura de capital já era prevista pelo governo. Eu gostaria de saber se isso pode afetar negativamente na vida de nós funcionários, pois trabalho a 3 anos na empresa e dependo dela para minha sobrevivência e gosto muito do que faço.Abraço

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    1. Juliano, a opinião do jornal é apenas isso - a opinião do jornal. Devemos esperar o início efetivo das ações do novo governo, com uma nova direção nos Correios, para saber se tenderão a caminhar nesse rumo. De qualquer forma, como diz a própria matéria, não seria algo para já, pois a Empresa precisa ser arrumada antes. Vamos aguardar os próximos dias e conferir se vão fazer o que espero que façam já - colocar direção técnica na Empresa.

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    2. Acredito eu Marcos que isso só afete dois grupos de trabalhadores na empresa diretamente, aposentados que ainda trabalham e os absenteistas da empresa. A empresa não medirá esforços para enxugar este pessoal.

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    3. Antonio Sérgio, espero que qualquer processo na linha de mudança de natureza jurídica da Empresa, se ocorrer, seja feito com atenção e cuidado às pessoas. O absenteísmo precisa ser estudado e combatido com medidas que alcancem suas causas. Os aposentados que continuam trabalhando precisam ser bem aproveitados, porque detêm grande conhecimento e experiência, ou terem oportunidades dignas de se retirarem via PDIAs adequados. Uma direção técnica saberá tratar bem disso.

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  2. Sabe qual é o problema, Conselheiro? Você ficou TRÊS anos no Conselho de Administração e poderia ter nos alertado quanto a esta situação. Podia também ter veiculado seu comentário na imprensa, para que toda a população brasileira soubesse do que está acontecendo nos bastidores da empresa. Só que não. Recebo o seu Feed de Notícias desde que você foi eleito (sim, votei em você na época). Você preferiu ser omisso, quando deveria nos representar. E agora milhares de ecetistas vão perder noites de sono pensando na insegurança do amanhã. Vender integralmente lotes da empresa? Fatiá-la? Soa-me como foi feito com a Rede Ferroviária Federal e com a Telebrás. Hoje a FENTECT E A FINDECT lutam por manter nossos direitos, e por mais; amanhã estarão negociando a abertura destas conquistas em troca da manutenção dos nossos empregos. Como é o que provavelmente vai acontecer no ACT deste ano. Triste...

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  3. Diego, respeito sua opinião. Se percorrer o blog, porém, verá que tratamos dos resultados da Empresa muito antes de esse tema ser percebido como problema na Empresa e fora dela. Verá que combatemos o aparelho político da Empresa e defendemos gestão técnica desde sempre. E, com relação à imprensa, precisamos convir que há meses o agravamento do quadro político brasileiro tem tomado todo o espaço. Um conselheiro, eleito ou não, não pode muito, mas pode dar sua contribuição nos seus votos, nas suas participações em reunião e na divulgação de suas posições e ideias. Penso que temos feito bem esse trabalho, mas queremos sempre melhorar.

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  4. Excelente análise. O texto acima é uma alento para nós funcionários. Sabíamos que a empresa estava mal gerenciada e a gestão perseguia e punia quem discordava. Fico feliz de ver que meus pensamentos não estavam errados e acredito que a próxima gestão corrija os erros do passado e faça com que voltemos a ter orgulho da nossa Empresa.

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  5. Senhor Conselheiro, eu trabalho nessa empesa há 13 anos e naquela época era uma empresa de alto prestígio. E no decorrer destes anos o que vejo é uma deterioração. A empresa rifada com cargos políticos, sendo mal administrada por líderes incompetentes; pessoas incapazes de exercer funções e fazendo a farra com a ITF (incorporando salários e ganhando novas funções) e sindicato omisso. Roubo no Postalis e má administração também no nosso plano de saúde. Por esse motivo o que restou foi a decadência de uma empresa que tinha tudo para ser uma empresa de credibilidade. Concordo com o colega Diego, não houve transparência. Deixaram nossa empresa chegar a esse ponto sem que nada fosse feito. Agora vivemos momentos de incerteza e de insegurança.

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  6. O Banco do Brasil e a Petrobras são S.A. de capital aberto. O Correios será igual.

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  7. Reclamando da abertura de capital... O golpe nos postalis não foi suficiente para aprenderem? Capital aberto igual a Petrobras teria qual risco? Ah, esses "funcionários" públicos lixo são o pior pra esse país... Tem que privatizar mesmo, quero ver se continuarão inertes?

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    1. Vc conhece a realidade de quem trabalha no show de fábrica dos Correios?São inúmeros funcionários se exaurindo de trabalhar. Isto de que funcionário público por aqui e bem diferente. Talvez está mordomia possa ser vista por cargos de confiança de alto escalão da empresa, mas em sua maioria a galera trabalha demais e sem nenhum reconhecimento.

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    2. Não vamos generalizar, Luis. Não são vagabundos e ladrões a quem você se remete. Claro que existem funcionários ruins, mas não é assim que um democrata age. Respeito e urbanidade são essenciais. Chega desse discurso de ódio, somos todos cidadãos.

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  8. Maria Amábile, cheguei aos Correios um pouco antes e também encontrei aqui uma empresa de que me orgulhava, apesar das inúmeras restrições e dificuldades que vivíamos porque os recursos eram então bem escassos. Vi a Empresa crescer, se aperfeiçoar, lançar o SEDEX, levar o SEDEX para o comércio eletrônico e se posicionar entre as melhores administrações postais do mundo. E, mais do que ver isso acontecer, pude contribuir em muitas ocasiões. Assim, acredito que seja perfeitamente possível voltarmos a ser uma referencia mundial, uma empresa equilibrada e lucrativa.
    E, quanto à transparência, concordo que a Empresa deu muitos "sinais trocados" ao longo dos últimos anos. Há tempos venho solicitando que se dê mais informações aos trabalhadores, de maneira que possam formar melhor sua opinião sobre o quadro geral. Além disso, temos nosso blog, com um conjunto importante de informações para quem quer compreender como anda a Empresa. Não posso responder pela Empresa, mas tentei fazer o máximo para levar informação qualificada, verdadeira e clara para meus colegas.

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  9. Prezado Marcos
    Não eh verdadeiro que a ingerência extinguirá se a ect deixar de ser estatal parcialmente, BB e Petrobrás já são assim e em nada diferem da Ect em ingerência. Salvo se vossa disposição for de se alinhar ao propósito de vender parte da ect. Empresas totalmente privadas podem ser altamente ingeridas e com total foco em corrupção, a diferença eh que não são responsabilizadas por não ter dinheiro do povo, mas o emprego eh do povo. A solução eh a definição de política de gestão e de funções. Não tem sentido se trocar presidentes, Vices, Diretores, etc todas vez que um partido muda de gosto. Se um diretor regional for trocado em um ano ou menos, um dos dois: ou o sistema é bom demais e não precisa de diretor ou a função de diretor eh inútil e não precisa de diretor. Em países mais sérios o profissional eh delegado por tempo determinado e somente sai antes se não atender aos requisitos da organização. Desconheço caso em que um gestor foi dispensado por não cumprir metas ou similar, mas sempre por ser ou não acoloiado a um político. Concordo que os empregados são bons, mas a gestão tem muito, muito a melhorar e não eh por causa de ingerência politiqueira, mas sim por falta de política apropriada que não permita os desvios.
    Expedito Reis

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  10. Expedito, de fato a simples mudança de natureza jurídica não assegura a solução dos males vividos pela ECT; prova disso, como você menciona, é a própria Petrobras, com seus inúmeros problemas. A mudança precisa passar por várias ações, entre as quais uma boa política de gestão de pessoas, abrangendo critérios e requisitos para a atribuição de funções. A propósito, sobre plano de funções e critérios de designação, veja a postagem em: http://conselhocorreios.blogspot.com.br/2014/09/plano-de-funcoes-e-criterios-para.html.
    Tudo, porém, pode ser feito de maneira mais eficaz se tivermos uma direção técnica, que compreenda a importância de medidas assim e tenha disposição de implementá-las.

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  11. Cada uma!
    Não há a menor possibilidade de uma empresa pública ser gerida por pessoa não indicada pelo Governo/executivo em exercício. A empresa pública pertence à nação e o executivo eleito pelo povo é que determina a atuação dela.
    Agora, pode se preparar. Tenha certeza que o atual governo irá pelo caminho que você apontou: "Com aparelhamento e ingerência políticos, sob a forma de estatal ou de economia mista, não terá futuro e tenderá a aprofundar os rombos já produzidos".

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