sábado, 23 de setembro de 2017

Desmistificando falácias e inverdades sobre os Correios

Com o movimento paredista em curso na Empresa, autoridades do Governo Federal, no afã de apoiar a direção política que comanda a organização, têm dado declarações públicas que reproduzem falácias ou inverdades sobre os Correios e seus negócios.

Nesta postagem, trataremos de algumas dessas questões, na expectativa de que as assessorias técnicas dessas autoridades as auxiliem a compreender melhor o assunto, evitando que cometam erros graves, como tem ocorrido.

Cartas
Uma primeira afirmação que tem sido apresentada por alguns Ministros, a partir de declarações enviesadas da própria direção dos Correios, é que "ninguém mais escreve carta", assim "o serviço postal estaria morrendo".
O que essas autoridades não sabem, talvez por não terem sido informadas disso, é que há décadas a comunicação por carta entre pessoas no Brasil é apenas um traço na estatística de postagens, ou seja, não é fato recente a queda de demanda de cartas pessoais. A imensa maioria das cartas que circulam nos Correios desde muito tempo é de cunho comercial - extratos, boletos e propagandas. E essas mensagens são convenientes e adequadas para muitos clientes.
Ao tratar dessa forma rasa e equivocada esta questão, essas autoridades do Governo Federal fazem um desserviço à Empresa, quando deveriam ressaltar a importância dos serviços postais - prestados no Brasil por uma entidade estatal - para a população e para a própria economia do País.

Privatização
Outra questão que é sempre trazida à tona, como uma espécie de ameaça aos trabalhadores, é a possibilidade de privatização dos Correios. Esta questão vem à tona para evitar a discussão de questões de fundo que deveriam precedê-la, como, por exemplo, as reais causas que levaram os resultados recentes da Empresa para o campo negativo (ver matéria anterior no blog), as quais decorreram, em boa parte, de decisões do próprio acionista (Governo Federal). Seria de uma irresponsabilidade gigantesca o próprio Governo Federal empreender a privatização de uma estatal, a preço vil, após depauperá-la com decisões como o recolhimento excessivo de dividendos e o congelamento de tarifas. Além disso, as experiências mal sucedidas de privatizações no setor postal estão presentes, para mostrar que este caminho não é simples e nem pode ser empreendido ou decidido a partir de rompantes das autoridades de plantão, afinal trata-se de uma infraestrutura que pertence aos brasileiros, há centenas de anos, e que tem papel estratégico, especialmente num País com as características continentais e de liderança regional, como o Brasil.
Minha sugestão para as autoridades: pensem na profissionalização da gestão dos Correios, no cumprimento absoluto e imediato da Lei nº 13.303/2016, como têm procurado fazer outras estatais. Isso poderá trazer para o Brasil resultados rápidos e muito mais concretos que os decorrentes de um eventual processo de privatização.

Plano de Saúde 
E uma terceira falácia que tem sido repetida é de que boa parte do prejuízo da Empresa decorre do plano de saúde dos trabalhadores. Trata-se de uma afirmação infundada conceitualmente. Para ilustrar, basta que se pegue, por exemplo, qualquer outra grande despesa, como, por exemplo, as comissões pagas a franqueados, e se atribua exclusivamente a essa despesa os prejuízos da Empresa, ou ainda, que se faça isso com as despesas com transporte. Numa organização do porte dos Correios, despesas como estas ascendem a casa de bilhão de reais por ano e, nem por isso, podem ser responsabilizadas isoladamente pelo resultado geral da organização. 
Todas essas grandes despesas precisam sim de gestão profissional, livre de questões como a interferência política, por exemplo. O problema não está, portanto, na existência dessas despesas, mas sim em seu gerenciamento.

As estatais brasileiras precisam ser geridas por profissionais devidamente qualificados, que conheçam os negócios e as operações de suas companhias, que saibam valorizá-las e entregar à nação os resultados esperados. Nos Correios, isso não é diferente. A Empresa é como um grande transatlântico, com um casco bem construído e forte, que navegará tranquilamente se for bem comandado e contar com uma tripulação profissionalizada. Se, porém, essa missão for confiada a canoeiros, esses continuarão informando que há tantas pedras e icebergs no caminho que está difícil chegar ao destino. E as autoridades, se não perceberem a situação, continuarão a repetir que a nau está com problemas, que a culpa é do mar e que é melhor vender a embarcação para os piratas e abandonar de vez a navegação.

5 comentários:

  1. Políticos corruptos nunca poderão dizer o que é bom ou ruim para a empresa, porque só pensam nos seus bolsos e em como lucrar com a privatização.

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  2. Marcos César, você sempre a mantendo uma postura correta e responsável a favor de todos nós.

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  3. Marcos César, gostaria que você enumerasse os fatores internos que lavaram ou tem levado a ECT a esta situação. Em todas as análises que tenho lido sobre a situação dos Correios e que são realizados por profissionais dos Correios, atribui-se a situação da empresa a fatores externos. Porque esta cegueira em não enxergar as mazelas internas como também responsáveis por esta situação?

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Mirabeau, nossa convicção é que a grande causa da situação em que a Empresa se encontra se situa na gestão da Empresa, que, se fosse técnica, encontraria facilmente os caminhos para enfrentar os problemas que vão surgindo na vida da organização. Não se trata, portanto, de colocar a culpa num fator externo, mas sim de centrar o foco na questão que, em nossa opinião, é determinante no contexto.

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